sexta-feira, 4 de junho de 2010

La fugue




Viagem e fuga são conceitos que, unidos, serviram de grande temática para as artes. Quando li "On the Road", do enfant terrible beatnik Jack Kerouac, fiquei fascinado com a jornada descrita pelo narrador, Sal Paradise. Todas as caronas, os caminhões, as noitadas, o ar fresco do Oklahoma, e, afinal, o próprio espírito de liberdade, são coisas que juntas transformam-se num amálgama que representa a boa sensação de viver. É uma obra tão importante ao ponto de Bob Dylan, a voz de uma geração, considerá-lo como uma bíblia para si, e é dito que o mesmo fugiu de casa após lê-lo. E não só ele, mas muitos e muitos outros o têm como livro de cabeceira. Mais que isso, a contra-cultura da segunda metade do século XX deve a "On the Road" e à geração beat o posto de alicerce da sua existência.

Mas não só em "On the Road" podemos encontrar essa "fuga". É possível citar também, na própria literatura, a mítica Odisséia de Homero. Ou, no Cinema, um dos meus filmes favoritos: Pierrot le fou, de Jean-Luc Godard. Na película francesa, porcamente traduzida no Brasil como "O Demônio das Onze Horas", Jean-Paul Belmondo interpreta um professor desiludido que se junta à musa Anna Karina a uma viagem em rumo ao sul da França, durante a qual vivem livremente, entre beijos e furtos. Pierrot le fou é um dos filmes mais belos já feitos, e so far o meu favorito de Godard - Brigitte Bardot que me perdoe, mas O Desprezo não conseguiu ocupar esse lugar.

Creio que todos nós deveríamos viver um momento de fuga e viagem como esses, em alguma parte das nossas vidas. De uma simples tarde fugindo de compromissos para admirar o pôr-do-sol tomando sorvete a uma longa viagem pelo país, como em On the Road. Ou, como em Walden de Thoreau, fugir para viver no mato. Ou então como Bob Dylan, pegar um violão, uma gaita e gravar um disco como "Highway 61' Revisited" ou "The Freewheelin' Bob Dylan". Devemos fugir desta rotina imposta por uma sociedade demente e medíocre, com valores hipócritas por todos os lados. Devemos quebrar grilhões e paradigmas, pelos quais nos tornamos o inimigo público número um de nós mesmos, submetidos a modelos de vida que não passam de anátemas de si próprios, verdadeiros catalisadores de infelicidade. Devemos chegar num momento e encarnar algo como Clint Eastwood interpretando Dirty Harry, e mandar tudo à merda. Dizer algo como: "Foda-se tudo, quero uma heineken e ouvir um disco dos Stones". Faz bem para a saúde.

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