sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

mimimi that's me, baby

Não que alguém se importe, maaas devo ter sérios problemas: não tenho vida social, me relaciono mais com pessoas de outros estados do que com gente da minha cidade, não tenho grupinho de amigos - hoje, na verdade, nem faço questão de um - e acabo sempre sendo outsider em qualquer coisa que o valha. Certa vez, em tom depreciativo, uma garota me disse que eu só falava em música. Numa outra vez, um amigo me disse que minhas conversas começavam assim: "porque o Pixies...", ou algo que o valha. Veja bem.

Há alguns vários anos, inconscientemente resolvi me acostumar a ficar no meu quarto. Li um livro que acredito ter a capacidade de mexer bastante com quem o lê, como foi o meu caso: "O Estrangeiro", de Albert Camus, definitivamente uma obra perturbadora e melancólica sobre a indiferença e a existência, que nos leva a refletir sobre o que é a vida. Meursault, protagonista, nos faz encarar a solidão, a sociedade e a visão de mundo que levamos. A partir daí, muitas outras leituras e vivências viriam a ser fundamentais na minha formação enquanto pessoa, e na minha perspectiva de futuro. O cinema, a música e a literatura - incluso quadrinhos - foram companheiros inabaláveis ao decorrer da minha adolescência, importantes na minha vida nestes últimos 7 anos.

Por algum tempo, enquanto gente da minha idade saía de casa pra ir, sei lá, comer Mc Donald's no shopping, eu ficava em casa numa sede insaciável de conhecer músicas novas, assistir milhares de filmes, ler incontáveis livros. A minha vida se resumiu basicamente a isso até três anos atrás, quando resolvi começar a sair de casa e ter vida social. Acredito que extremismos nunca são saudáveis, e o melhor é ir pelo "caminho do meio", evitando tanto a reclusão máxima, quanto a vida social desregulada. Uma dosagem correta é fundamental para uma boa vivência, penso eu hoje em dia.

Não tenho vergonha do que fui. E nem do que sou, tampouco do que serei. A arte, em especial a música, para mim nunca foi apenas um produto a ser consumido, como infelizmente é no senso comum. Sempre foi uma forma de leitura, representação e reflexão do mundo, das nossas vidas, dos nossos cotidianos. A arte contesta, perturba, comove, alegra, sublima. A música nos faz ouvir um disco dos Smiths e enxergarmos toda a nossa vida nele. A música nos faz ouvir as canções de amor do Lou Reed e nos lembrar dos amores que tínhamos, temos ou teremos. A música me faz ouvir Wish You Were Here e me transportar através dos anos. A música nos faz sonhar. A música nos salva.

Por isso, se algum dia ouvir novamente alguém dizer que sempre estou falando sobre música (ou quadrinhos, ou filmes, ou livros), responderei com um sincero e sereno sorriso, porque é isso o que me define como ser-no-mundo. Que bom que eu sempre falo em música. Ainda bem.